25/07/2011

Quem me dera que tivesses vindo a Lisboa para ficar

Quero ir ao Porto, não quero ir a Inglaterra. Também não quero ficar em Caxias. Quero ir-me embora, mas acompanhada. Quero-as a elas, a ele. Quero o meu mundo, a minha gente, aquela gente que me percebe, que me lê as mãos, o olhar, aquela gente que me paga cervejas e me crava cigarros, aquela gente com quem sei que posso contar. Quero rir até me doer a barriga, até me desfazer em chichi, até chorar, quero beber até cantar aos altos berros no meio da rua, até fazer sexo que nem uma louca, até pedir alguém em casamento, até dizer tudo o que me vai na alma.
Não quero voar num avião. Todos os dias voo. Voo entre Lisboa e o Porto, Queijas e Caxias, Miraflores e Matosinhos. Todos os dias voo com elas, com ele, voo com os olhares cúmplices que troco com aquelas que preenchem o meu coração, os olhares que tudo dizem, nada contam porque já tudo sabem, e os gestos leves que troco com ele, e a vontade de amor que me mostravas mesmo à porta de casa, já com a chave na fechadura, mesmo a entrar, nós de um lado, a minha avó do outro, o desejo em nós, e enrolar-nos e de repente já são os lençóis que nos enrolam, já a música acabou, já quase amanhece e já dormes, abraçado a mim, belíssimo, tranquilo, e até a dormir, engraçado. Rei.
E enquanto tu dormes costumo ficar acordada, a pensar que a vida corre e eu tento correr mas não sou tão veloz, a pensar que nem o vento consegue ser, a pensar que por mais que tente, por mais que corra, que o passo seja acelerado, mesmo que esteja calma, parada, sentada, mais que confortável e relaxada, ando sempre a correr atrás da vida, porque, como aprendi contigo, parar é morrer.
Hey, não me esqueças, não beijes outros lábios, não faças outro corpo balançar, contorcer, não faças outra gemer, não faças outra tão feliz como me fizeste, sim?
E vocês, minhas meninas, estão sempre no meu coração. Absolutamente todos os segundos. São os meus maiores amores, como irmãs.

20/07/2011

PR @ Algarve & Lx

Na primeira noite, só o vi, na mesma mesmo ao lado da minha.
Há duas coisas a reparar de imediato: a altura e o bigode. Ponto final.
De resto, repara-se quando se entra.
Extravagante, rei daquilo tudo, dança até não poder mais, e quando já todos estiverem cansados, ele vai continuar até o bar fechar.
No final dessa noite, a primeira, a Mg. contou-me:
- Ele chegou ao pé de mim e perguntou-me "Onde é que foi a tua amiga com o maço ao de penduro?"
Ri-me, prestei pouca atenção, mal quis saber. E ainda bem. Foi tudo muito mais bonito.
Na noite seguinte, a história foi outra. Vi-o, e também o vi a olhar, era aquele, aquele que tinha dito que eu tinha o maço ao de penduro. E o meu maço continuava preso ao meu pescoço por uma guita, como em todas as noites algarvias com elas. Então movi-me, soube mover-me, e fui até à janela onde ele fumava, descontraído, ele longe mas mesmo assim o braço dele saía pela janela.
Claro que eu, com menos 40 centímetros, deixei de me saber mexer e tentei, desajeitada, fazer o mesmo que ele. E então, falámos. Melhor, ele falou.
- Não era mais fácil sentares-te ali? - e fez um gesto para o parapeito da janela.
Eu ri-me, sem vergonha, talvez com já algum álcool no sangue, mas pouco, apenas o suficiente para me rir sem corar, e segui o conselho, sentei-me no parapeito. E foi ele quem voltou a falar.
- És mesmo lisboeta!
Escondi a minha paixão pelo Porto, por aquela pronúncia e por todo o momento e ripostei:
- OS LISBOETAS SÃO BONS!
- São... - disse ele, na sua expressão calma - pra pegar fogo.
Ri-me, ele acabou o cigarro e eu fiquei sozinha a acabar o meu, a trocar olhares com todas elas. A Guida a rir, a Jéssica a desaprovar, e provavelmente as outras duas nem se aperceberam de nada.
Quando desci, juntei-me a elas de novo, e então ele, de uma maneira ou de outra, naquele jeito de sucesso, de rei, de coordeno, movimento, faço a festa e ainda te deixo cansada, pegou em mim, agachou-se para estar mais ou menos da minha altura, dançámos e segundos depois beijou-me.
E dançámos pela noite fora, ele a dar-me bailes na pista de dança, e eu a tentar a acompanhar, sem sucesso, até porque, como ele diz, ele é o Sucesso.
Saímos, puxa cigarro, puxa conversa e gargalhada, acabámos a noite à porta do meu prédio pelas cinco da manhã, eu, ele, as minhas amigas e o amigo dele, numa histeria de álcool, droga, alegria e liberdade. De números trocados e ouvi as primeiras palavras românticas sair daqueles lábios que ainda não tinham dito nada mais do que piadas sobre todo e qualquer ser daquele lugar:
- Amanhã quero ver-te.
E vimos, e os dias e as noites passaram, breves mas felicíssimas, espontâneas, livres como mais não podiam ser.
E numa noite, estivemos nas escadas, descalça, despe, beija, lambe, apalpa. Sexo.


Todas as noites me levava a casa, de mãos dadas, abraçadas, e pegava-me ao colo, fiquei sempre a mais de dois metros do chão porque ele elevou-me acima da sua cabeça. E toda a rua podia ver o meu rabo, o meu decote, e então? VERÃO. ALGARVE. AMIZADE. As minhas amigas e agora, o meu amor de verão que se estava a tornar em algo mais.
Todas as noites me cantou ao ouvido, todas as noites bebemos, todas as noites pedimos desejos a shots que bebemos juntos, nós e os outros, os rapazes não sei de onde, e as minhas amigas, as minhas lindas, as minhas meninas, foram momentos para nunca mais esquecer.
Uma noite, cantou-me aos altos berros, no meio da rua, numa dança romântica entre abraços e beijos, que se apaixonou ali, na praia da Rocha, e que comigo queria ficar, e rimava, mas não me lembro como, nem ele se lembra, e que nunca me iria largar.
E derreti-me nessa noite.
E noutra, cantou-me a Our Last Summer dos ABBA.
I can still recall our last summer
I still see it all...


E as noites melhoravam, e a cumplicidade, e a vontade de ficar mais um dia de praia, de piscina, mais uma noite naquele bar, naquele lugar, lugar Paraíso.


A última noite não posso esquecer.
Fomos até à marina, nós e todos os outros, fora aqueles que já tinham ido.
Uns no chão, outros no muro, conversa, frio e quando desistiram da conversa por causa do frio, voltámos para trás.
Abracei-o pela cintura. Passara aquele tempo todo a olhar, só a olhar, a sentir isto por dentro, esta dor, esta saudade, a sentir que talvez  de tudo aquilo que tinha planeado para o meu verão - os cem rapazes, as mil bebedeiras e o milhão de gargalhadas - tivesse dado cabo da primeira.
Não era arrependimento. Mas era dor, e quando dói, dói.
Começámos a andar, quase chorava mas ele não notava, porque entre beijos que me deu, conversava com o amigo.
Mas não consegui quando comecei a ouvir, do telemóvel dele:
I can still recall our last summer
I still see it all
Walks along the sein
Laughing in the rain
Our last summer
Memories that remain...
Que se lixe, desmanchei-me em lágrimas.


Então, ele agarrou-me na cara com as duas mãos e disse-me:
- Eu venho ver-te, tu vais ver-me - tinha o meu isqueiro - e só to dou quando vier cá. E depois ficas tu com ele, e só mo dás quando fores ao Porto. E nós vamos ver-nos, fica aqui prometido. Não te quero ver chorar. O teu sorriso é o que tens de melhor. Naquela noite - aquela, em que ele reparou mas eu só lhe vi a altura, o bigode e a mestria da dança - vi-te na esplanada, a dançar a La Tortura, não paraste um bocado e tinhas o teu sorriso lindo sempre... é assim que te quero ver. Acredita, esta é a primeira última noite de muitas.
Limpou-me as lágrimas, desligou a música que não me saiu mais da cabeça até hoje.
Chorei o caminho todo até casa, mas sempre me faz sorrir, sempre o adoro, sempre me diverte e me faz sentir que estou no paraíso. O meu homem, de dois metros, o meu homem divertido, com pronúncia do norte, o meu homem que joga basquet profissional e que fuma demasiado. O meu, meu, meu, e quero tanto tê-lo de novo, como naquela noite nas escadas da praia.


A verdade, é que estou muitíssimo perto de descobrir se irá cumprir com tudo o que diz.
Amanhã, antes das quatro da tarde vou estar à sua espera em Santa Apolónia, de dedos cruzados a pedir com força que ele apareça no comboio que vem do Porto desde a uma. Amanhã, se tudo correr como desejo tanto, vamos os dois estar a dormir na casa da minha avó - cada um na sua cama, mas hei-de escapulir-me uns instantes para ao pé dele - e vamos estar a assumir que esta história não vai ter fim...


E eu adoro, adoro tudo isto