Quero ir ao Porto, não quero ir a Inglaterra. Também não quero ficar em Caxias. Quero ir-me embora, mas acompanhada. Quero-as a elas, a ele. Quero o meu mundo, a minha gente, aquela gente que me percebe, que me lê as mãos, o olhar, aquela gente que me paga cervejas e me crava cigarros, aquela gente com quem sei que posso contar. Quero rir até me doer a barriga, até me desfazer em chichi, até chorar, quero beber até cantar aos altos berros no meio da rua, até fazer sexo que nem uma louca, até pedir alguém em casamento, até dizer tudo o que me vai na alma.
Não quero voar num avião. Todos os dias voo. Voo entre Lisboa e o Porto, Queijas e Caxias, Miraflores e Matosinhos. Todos os dias voo com elas, com ele, voo com os olhares cúmplices que troco com aquelas que preenchem o meu coração, os olhares que tudo dizem, nada contam porque já tudo sabem, e os gestos leves que troco com ele, e a vontade de amor que me mostravas mesmo à porta de casa, já com a chave na fechadura, mesmo a entrar, nós de um lado, a minha avó do outro, o desejo em nós, e enrolar-nos e de repente já são os lençóis que nos enrolam, já a música acabou, já quase amanhece e já dormes, abraçado a mim, belíssimo, tranquilo, e até a dormir, engraçado. Rei.
E enquanto tu dormes costumo ficar acordada, a pensar que a vida corre e eu tento correr mas não sou tão veloz, a pensar que nem o vento consegue ser, a pensar que por mais que tente, por mais que corra, que o passo seja acelerado, mesmo que esteja calma, parada, sentada, mais que confortável e relaxada, ando sempre a correr atrás da vida, porque, como aprendi contigo, parar é morrer.
Hey, não me esqueças, não beijes outros lábios, não faças outro corpo balançar, contorcer, não faças outra gemer, não faças outra tão feliz como me fizeste, sim?
E vocês, minhas meninas, estão sempre no meu coração. Absolutamente todos os segundos. São os meus maiores amores, como irmãs.